HAICAI BRASILEIRO
O Brasil Nikkei publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão.
A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.
Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo) e endereço. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade.
Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.
TEMAS DE MAIO
Sardinha – Caqui – Dia das Mães
a primeira vez –
o bebê come o caqui
e faz cara feia
André Eitti Ogawa
Florianópolis, SC
paro no farol
primeiros caquis do ano
em mãos calejadas
Carlos Viegas
Brasília, DF
Ah, Dia das Mães…
Sentadinha na varanda
a última foto.
Cyro Mascarenhas
Brasília, DF
É Dia das Mães,
Lembranças de cada um…
Ausente ou presente.
Didi Tristão
São Paulo, SP
trêmula na linha
a voz do filho distante –
Dia das Mães
Elciane de Lima Paulino
Guarabira, PB
cheiro de sardinha
chegando até o portão
é o prato de hoje
Ivete Cunha Borges
São Paulo, SP
Para o espanto dela
comia a sardinha frita
com espinha e tudo.
Jigen Oliver
São Paulo, SP
Espinha dorsal
separada na comida;
brinco com a sardinha.
Jonathan Leandro Martins Reis
Congonhas, MG
alguns caquis doces,
também em cima da mesa
As contas do mês
Josep Yvyrapohára
Assunção, Paraguai
manhã de sol –
prato de sardinhas fritas
na mesa do bar
Jurema Rangel
Rio de Janeiro, RJ
hoje ela é tema
durante todo o domingo –
feliz Dia das Mães!
Madô Martins
Santos, SP
Vai-se outro ano
sem a sua companhia.
Dia das Mães.
Matsuki Pichorim
- José dos Pinhais, PR
Caqui de sobremesa –
A fruta preferida
do afilhado ausente
Mônica Monnerat
Santos, SP
Lembrança do filho
que antes dela partiu…
Dia das Mães
Regina Alonso
Santos, SP
Caquis da vizinha –
o cestinho de presente
ela nunca esquece.
Reneu Berni
Goiânia, GO
manhã de domingo
saudosas recordações –
ah… Dia das Mães
Solange Colombara
São Paulo, SP
Dia das Mães –
nos vasos da varanda
tantas lembranças…
Vanice Zimerman
Curitiba, PR
caqui no jardim –
encanto da passarada
defronte à porta
Vilmar Donizetti Pereira
Presidente Olegário, MG
Temas de junho (postar até 10 de maio)
Dia curto – Nabo – São Pedro
Temas de julho (postar até 10 de junho)
Minuano – Mandioca – Banho de sol
Haicai Brasileiro
Francisco Handa
Esquecer para aprender (5)
Todo começo é difícil. Compor haicai simplesmente achando que, pelo tamanho seja fácil, não corresponde à realidade. A mesma dificuldade em compor um poema longo também se manifesta no haicai. No entanto, muitos, ao lerem um haicai pela primeira vez, confundem simplicidade com facilidade. “Se é assim, também posso compor um igual!” Esse é o primeiro caso. Em outro, a simplicidade é percebida como valor estético, um mistério oculto nas palavras, uma provocação, um humor. O haicai é tudo isso. Alguns conseguem captar essa essência após certo treinamento, outros precisam exercitar-se mais. Esse exercício consiste em lapidar a linguagem, usar palavras carregadas de significação quando necessário, palavras diretas em outros momentos, e também palavras neutras. Ainda que aqui eu esteja teorizando, o haicaísta não precisa se apoiar nesse tipo de formulação. A descoberta da linguagem acontece no ato da composição.
Da maneira como entendo, a linguagem cria um universo peculiar, o do haicai que se realiza numa somatória das emoções e o ambiente vivenciado no momento. A isto chamo de kigô.