Sujeito de sorriso fácil, que está sempre bem-humorado e disposto a ajudar os outros. Mas não se deixe enganar pelas aparências. Roberto Nishio, de 82 anos, também sabe ser austero e firme quando necessário. Único candidato à sucessão de Renato Ishikawa na Presidência do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Nishio deve tomar posse neste sábado (26). quando acontece a 166ª Reunião do Conselho que definirá os novos dirigentes do Conselho Deliberativo, da Diretoria e do Conselho Fiscal.

Natural de Assaí (PR), Nishio explica que, quando recebeu o convite para sair candidato à presidência do Bunkyo não teve qualquer dificuldade em aceitar o chamamento. “Apenas pedi um tempo para que pudéssemos encontrar o meu substituto na presidência da Fundação Kunito Miyasaka”, conta.

Nesta entrevista ao Brasil Nikkei, Roberto Nishio fala sobre seus planos à frente da principal entidade nipo-brasileira do país:

(Aldo Shiguti)

Brasil Nikkei: O que o fez aceitar lançar seu nome a presidente do Bunkyo?

Roberto Nishio: Na gestão do presidente Renato Ishikawa, que ora se finda, venho exercendo o cargo de 1º vice-presidente, consciente de que seria o candidato natural à sua sucessão, embora o presidente e eu nutríssemos a esperança de poder eleger um jovem presidente e assim cumprir o plano de passar o comando do Bunkyo a uma geração mais jovem.

Mas nem sempre os planos dão certo e os mais jovens, ainda em plenas atividades profissionais e com famílias em formação, também não têm condição de assumir a responsabilidade de presidir uma entidade como o Bunkyo, que exige muitas horas de dedicação durante os sete dias da semana, pois são inúmeros os eventos próprios e os de terceiros a que somos gentilmente convidados.

Foi o que ocorreu neste final de gestão do presidente Renato Ishikawa, em que ainda não conseguimos transferir o bastão da presidência para um jovem, mas a base está sendo construída e daremos seguimento a esse objetivo, tanto é que designamos a nossa chapa de “Transição”.

Tenho razoável experiência em presidir entidades associativas, pois já fui presidente do Guarapiranga Golf & Country Club e a Fundação Kunito Miyasaka, cargo que exerço desde 2013 e que estou deixando neste mês de abril e nestes anos todos de diretoria do Bunkyo tive a oportunidade de conhecer bem a estrutura desta nossa entidade.

Assim, quando convidado a candidatar-me à presidência do Bunkyo, não tive qualquer dificuldade em aceitar o chamamento, pedindo apenas um tempo para que pudéssemos encontrar o meu substituto na presidência da Fundação Kunito Miyasaka.

Além disso, tinha certeza de que contaria com o apoio dos atuais conselheiros e diretores do Bunkyo, o que efetivamente ocorreu, tanto é que formamos uma excelente chapa de candidatos aos principais cargos da Diretoria, mesclando a experiência dos seniores, com o entusiasmo dos jovens e a força das mulheres. Após a eleição teremos a nomeação de mais 15 diretores e a minha expectativa é de poder constituir uma equipe homogênea, altamente capacitada e com foco no desenvolvimento das atividades do Bunkyo.

Minha missão será despertar o orgulho de ser descendente

 

Brasil Nikkei: É um desafio suceder o Dr. Renato Ishikawa?

Roberto Nishio: É sempre um desafio assumir novas responsabilidades em quaisquer atividades. Assim foi quando fui convidado a presidir o Guarapiranga Golf & Country Club e também a Fundação Kunito Miyasaka. O desafio está em assumir a presidência do Bunkyo, uma organização bastante complexa, não exatamente em suceder ao Dr. Renato Ishikawa.  Acompanhei e participei dos seus três mandatos na Diretoria do Bunkyo, contribuindo naquilo que me foi possível para o sucesso de sua gestão, principalmente na realização dos eventos previstos em calendário anual de atividades.

Cada um tem estilo próprio de administrar, de relacionar-se com as pessoas e nesses quesitos acredito estar suficientemente preparado para, com a equipe de diretores que participarão da eleição do próximo dia 26, bem orientar e dirigir o Bunkyo nos próximos dois anos.

É pretensão minha fazer a comunidade nipo-brasileira entender que o Bunkyo, ao manter e administrar o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil e o Pavilhão Japonês, no Parque Ibirapuera, carrega uma responsabilidade e custo financeiro bastante pesados, e o vem fazendo com largos sacrifícios, tanto é que essas duas unidades somente agora estão encontrando o seu ponto de equilíbrio, isto graças às reformas realizadas em suas instalações, com a imprescindível colaboração de empresas de capital japonês e também da nossa comunidade. E devo salientar que, após as reformas realizadas, aumentou consideravelmente o número de visitantes ao Museu e ao Pavilhão Japonês. A nota triste é que o público visitante é constituído quase que exclusivamente por não descendentes de japoneses e turistas estrangeiros em visita a São Paulo. Poucos são os nipo-brasileiros!!!

Creio que conhecendo estas duas unidades todos se orgulharão do serviço que o Bunkyo vem prestando à comunidade nipo-brasileira, à cidade de São Paulo e ao Brasil, torço para que se motivem a juntar forças com o Bunkyo para perenizar a existência do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil e desse Pavilhão Japonês, e principalmente do próprio Bunkyo.

Então, eu não mais ficarei entristecido, quando for indagado em qual ser a vantagem de uma entidade ou uma pessoa natural se associar ao Bunkyo?

É como sempre respondo a essas indagações, nós não somos um clube social e não dispomos de piscinas, quadra de tênis, campos de futebol ou de beisebol para oferecer a nossos associados. Somos uma associação sem fins lucrativos, com a missão de preservar e divulgar as artes, a cultura japonesa no Brasil e a brasileira no Japão, e também de cuidar de pessoas, em especial de idosos através da nossa área de Assistência Social, e neste quesito somos reconhecidos pela Prefeitura de São Paulo, com que firmamos convênio de parceria para a implantação do Núcleo de Convivência do Idoso – NCI.

O que oferecemos é a oportunidade de homenagear aos pioneiros imigrantes e participar com muito orgulho de todos esses projetos que preservam a história da imigração japonesa, cuidando das artes, da cultura, de homenagear a nossos próprios ancestrais e, em especial, e cuidar de pessoas em condições de vulnerabilidade. Enfim, o que oferecemos são oportunidades de resgate e prática de valores éticos, como, Gratidão, Respeito, Responsabilidade, Gentileza e Coletividade.

Nosso respeito e gratidão a todos os Voluntários que impulsionam diariamente as atividades do Bunkyo, independentemente de exercício ou não de cargo na Diretoria ou nos Conselhos Deliberativos e Fiscal!

Finalizando esta questão, pretendemos seguir os caminhos abertos pelo Dr. Renato e por todos os demais ex-presidentes, intensificando o relacionamento de amizade e atividades com as entidades nipo-brasileiras e também fortalecendo o intercâmbio sociocultural com o Japão, através de sua Embaixada e Consulados no Brasil e com a comunidade brasileira lá estabelecida, implementando novas ações quando necessárias e oportunas.

Ideias próprias certamente surgirão das experiências de nossos diretores e voluntários seniores, mescladas com as criatividades dos mais jovens diretores e  grupos de voluntários e poderão ser implementadas.

Na comemoração dos 25 anos da Fundação Kunito Miyasaka

 

Brasil Nikkei: As comparações o preocupam?

Roberto Nishio: Não, não me preocupam, pois conheço muito bem a diferença entre nós. Seria como comparar um Airbus com um teco-teco. Admiro muito o Dr. Renato Ishikawa, pessoal e profissionalmente.

Vamos dar o nosso melhor para a continuidade do trabalho desenvolvido pelo presidente Renato Ishikawa e por todos os presidentes que o antecederam, para engrandecer ainda mais o Bunkyo.

Brasil Nikkei: Qual deve ser a sua marca?

Roberto Nishio: No próximo mês de dezembro o Bunkyo completará 70 anos e, também, neste ano celebramos os 130 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão, em decorrência vários eventos serão realizados, estando prevista a visita de Sua Alteza Princesa Kako, da Família Imperial Japonesa, ao Brasil e ao Bunkyo.

Teremos bastante trabalho pela frente, mas estamos felizes e orgulhosos em celebrar estes dois marcos históricos que envolvem diretamente a nossa entidade.

O Bunkyo nos últimos anos transformou-se de uma entidade regional em internacional com o trabalho desenvolvido pelo presidente Renato Ishikawa e sua diretoria. Hoje conectamo-nos, via internet, com mais de 250 entidades espalhadas por todas as regiões do Brasil, com as quais periodicamente nós nos reunimos, para troca de experiências. E nossos diretores estiveram presentes em eventos presenciais no Japão, Estados Unidos, Peru, Canadá e Paraguai, além de mantermos contatos com entidades de outros países da América Latina.

Para dar sustentação a esse crescimento há, porém, necessidade de uma estrutura bem definida e organizada para que os trabalhos não se descontrolem. Estamos com foco neste item administrativo.

Por outro lado, além das atividades artísticas e culturais, inclusive gastronômica, que tradicionalmente são bem realizadas no Bunkyo, também estamos com os olhos voltados para a intensificação de nossos cuidados para com as pessoas, através dos trabalhos de assistência e integração social.

Estaremos atentos para tornar nossa bem montada Biblioteca, com rico acervo de livros publicados em japonês, bem movimentada quanto ao Museu da Imigração Japonesa e o Pavilhão Japonês, inclusive convidando para tanto jovens estudantes que vivem na região da Liberdade e eventualmente morem em pensões ou pequenos apartamentos (República de Estudantes) que venham estudar em ambiente adequado e silencioso como o de nossa biblioteca, suprindo assim a falta de espaço ou desconforto sonoro para um estudo mais proveitoso.

Um atenção especial dedicaremos a nossos Associados, pessoas naturais e jurídicas, visando uma maior aproximação e interação.

Desejo sinceramente transmitir para todos este meu orgulho pelo Bunkyo, por sua trajetória de 70 anos e pelo esforço de várias gerações de diretores para a preservação da tão bela quanto sofrida e vitoriosa história da imigração japonesa no Brasil, ou seja a história de nossos avós, pais e parentes que com muita dedicação ao trabalho, perseverança formaram uma sólida comunidade nipo-brasileira, importante segmento da sociedade brasileira.

Na homenagem póstuma ao fundador de Assaí, Carlos Yoshiyuki Kato

Minha missão será despertar na comunidade nipo-brasileira, em especial nos mais jovens, o orgulho de ser descendente de japoneses e ser brasileiro.

Espero ser bem sucedido neste objetivo, para que possa sentir daqui a dois anos, quando terminar o meu mandato, a sensação de ter valido a pena esta minha luta!

Para que isto se torne possível, conto com o apoio, orientação e ajuda de todos os colegas de Diretoria, dos senhores Conselheiros, dos Associados, dos Funcionários e dos Voluntários, meus companheiros de trabalho nos próximos dois anos.

São os pensamentos com que me apresento como candidato à presidência da Diretoria do Bunkyo, encabeçando a chapa Transição!

Roberto Nishio na Assembleia da Liga da Alta Paulista, em Bastos

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