Renato Ishikawa vai deixar a presidência do Bunkyo com a certeza de ter consolidado a entidade “conquista”
COMUNIDADE / ESPECIAL
‘A consolidação do Bunkyo é minha maior conquista’, diz Renato Ishikawa
O empresário Renato Ishikawa iniciou o seu último ano como presidente do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – com um semblante mais leve do que terminou 2024. Não que o ano passado não tenha sido bom. Pelo contrário. A exemplo dos dois anos anteriores (2022 e 2023), a entidade também fechou 2024 com superávit que, como explicou o presidente, “se não é grande, pelo menos é um balanço positivo que nos deixa numa situação financeira saudável”. Mas a aparência, mais serena, tem também outros motivos.
Aos 86 anos de idade, Renato Ishikawa vai deixar a presidência da principal entidade representativa da comunidade nipo-brasileira no dia 26 de abril após três mandatos consecutivos com legados pelos quais certamente será lembrado.
Entre eles, a consolidação da entidade, que o próprio Renato Ishikawa considera que tenha sido sua principal conquista. “Entendo por consolidação o fato de termos conseguido organizar o Bunkyo com estrutura empresarial, em todos os aspectos, desde a parte burocrática até o planejamento, passando pelo orçamento e a administração do escritório”, conta o presidente, que atendeu a reportagem do jornal Brasil Nikkei no dia 6 de janeiro, em seu primeiro dia de expediente de um ano que ainda promete muitas atividades – como a preparação para o aniversário de 70 anos de fundação da entidade e a celebração dos 130 Anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão.
Mentalidade empresarial – Segundo ele, hoje toda a Diretoria está imbuída dessa mentalidade empresarial. “Cada coordenador ou presidente de Comissão tem que fazer seu planejamento e organizar seu evento, seja ele o Bunka Matsuri, FIB ou Revi, com essa predisposição, ou seja, cada um sendo responsável por sua respectiva comissão tanto financeira como operacionalmente”, conta Renato, explicando que esse esforço conjugado reflete no balanço positivo da entidade.
A mudança de mentalidade, porém, não foi a única conquista em sua passagem pelo Bunkyo. Renato Ishikawa também encerra seu ciclo na entidade com outros importantes legados, como a de ter fortalecido a imagem do Bunkyo no Exterior, como aconteceu em suas viagens ao Paraguai, onde participou da 21ª edição da Convenção Pan-Americana Nikkei (Copani), realizada em setembro, e ao Japão, em outubro, quando cumpriu uma agenda recheada de compromissos que incluiu a 64ª Convenção dos Nikkeis e Japoneses no Exterior, em Tóquio, de 15 a 17 de outubro, organizada pela associação Kaigai Nikkeijin Kyokai, o II Fórum de Pesquisadores e Comunidade Brasileira no Japão – em que o presidente Renato Ishikawa foi um dos convidados da mesa-redonda – além de uma série de palestras.
Jovens – Na viagem ao Japão, pelo terceiro ano consecutivo, ele fez questão de contar, mais uma vez, com a presença de jovens na comitiva – no caso, o vice-presidente do Bunkyo, Oston Hirano, o secretário-geral Hugo Teruya e o diretor Marco Túlio Toguchi.
A participação dos jovens, por sinal, foi outra bandeira que levantou desde que assumiu a presidência da entidade, em 2019. Hoje, orgulha-se de ter difundido esse conceito por praticamente todas as demais associações nikkeis espalhadas pelo país, que também passaram a perceber cada vez mais a importância dos jovens para a sobrevivência das entidades.
No Bunkyo, hoje os jovens assumiram a coordenação de eventos como o Bunka Matsuri e o Sakura Matsuri, além do FIB – Fórum de Integração Bunkyo e o Fórum Nacional dos Jovens Líderes das Entidades, carinhosamente chamada de Revi.
Revi e Bunka Matsuri – “O Bunka Matsuri já está consolidado e indo muito bem ano após ano. O FIB, ou melhor, o conceito do FIB, está extrapolando as fronteiras do recinto do Bunkyo e indo para as Regionais, como Presidente Prudente e, futuramente, em Recife. Quanto à Revi, acho se tratar de uma atividade muito importante dentro do Bunkyo porque sempre vem de encontro com duas das minhas prioridades, que é oferecer protagonismo aos jovens e incrementar o relacionamento. Considero que o Revi, diferentemente do Bunka Matsuri que tem sido coordenado por jovens – mas aberto ao público em geral – a Revi é um evento feito pelos jovens para os jovens. Nós, senpais, somos convidados para participar da abertura ou fazer palestra, mas a coordenação é dos jovens. E isso é importante porque está se criando um conceito de pertencimento. Isto é, através do Revi os jovens estão sentindo que pertencem à entidade. E quero que meu sucessor tenha essa mesma filosofia, de valorizar cada vez mais a participação dos jovens”, destaca Ishikawa, acrescentando que, até mesmo associações do exterior estão valorizando a atuação dos jovens.
E Renato Ishikawa vai além. O atual mandatário do Bunkyo afirma que hoje os jovens estão preparados para assumir até mesmo a presidência da entidade. Segundo ele, pelo menos “meia dúzia” de nomes estariam aptos atualmente para o cargo. Vale lembrar que esta gestão já teria um jovem na presidência não fosse a morte de Marcelo Hideshima, em 2023, justamente quando ele havia aceitado o convite para sucedê-lo na Presidência.
O presidente com os funcionários da entidade Hoje, todos no Bunkyo assimilaram a mentalidade empresarial
Relacionamento – Apesar de afirmar que “gostaria que fosse logo”, Renato Ishikawa admite que não será agora que isso ocorrerá. “Quem sabe daqui a dois anos”, diz ele que, ao lado do protagonismo dos jovens, elegeu como outra prioridade de seu mandato “incrementar o relacionamento, seja ele pessoal ou entre as associações”.
“Essa é outra grande conquista que tenho muito orgulho de deixar não só para o Bunkyo, mas para todas as associações nikkeis. Não me refiro ao ato de cumprimentar, mas no diálogo que foi criado entre as Regionais. Nas reuniões, por exemplo, cada representante conta sua história, expõem seus problemas e apontam soluções, estimulando para que outras entidades façam o mesmo. Esse tipo de conexão que estamos criando é algo fantástico. O Brasil inteiro hoje está integrado – algumas regiões mais e outras menos”, conta Ishikawa, acrescentando que os três equipamentos administrados pelo Bunkyo – Pavilhão Japonês, no Parque do Ibirapuera (zona Sul de São Paulo); o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, nos sétimo, oitavo e nono andares do Edifício Bunkyo, no bairro da Liberdade, em São Paulo; e o Parque Bunkyo Kokushikan, em São Roque (SP), “estão indo muito bem”.
Museu – “O museu passou por uma remodelada no nono andar, que ficou mais leve. Graças a atuação da Lídia Yamashita [presidente da Comissão de Administração do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil], o museu já está consolidade e recebendo um público cada vez maior, especialmente de jovens não descendentes de japoneses, incluindo muitas caravanas de escolas municipais. Imagina esses jovens daqui a dez anos. Talvez agora não haja ainda cem por cento de entendimento da cultura japonesa, mas já terão assimilado ao menos a mensagem. O Pavilhão Japonês também ficou com um ar mais moderno e mais integrado ao parque. Além disso, a abertura do café e da lojinha de presentes deu mais dinâmica àquele espaço, que passou a receber um número maior de visitantes”, disse Renato, explicando que, quanto ao Kokushikan, que era considerado uma espécie de “elefante branco” da entidade, ou seja, “que só dava prejuízos” e hoje se tornou uma importante fonte de captação de recursos.
Sakura Matsuri – Prova disso é a realização do Sakura Matsuri – Festival das Cerejeiras Bunkyos, que atingiu um “outro patamar” com a coordenação do vice-presidente do Bunkyo, Massami Uyeda Jr., que preside também a Comissão de Administração do Parque Bunkyo Kokushikan. Evento de maior visibilidade realizado anualmente no Kokushikan, o Sakura Matsuri ganhou também uma exposição agrícola, cujo objetivo é atender a vocação da região, que reúne muitos produtores rurais.
Renato conseguiu implantar sua filosofia de trabalho também no exterior
Pronac e NCI – Fora isso, existe o projeto Cerejeiras para o Futuro, que visa aumentar o Bosque das Cerejeiras – que contava com cerca de 400 pés de sakura. De acordo com Renato Ishikawa, o bosque totaliza agora cerca de mil pés de sakuras. “Algumas árvores plantadas de 2020 para cá já estão florindo”, diz Renato Ishikawa, que destacou ainda a consolidação de projetos culturais através do Pronac, “graças ao trabalho do diretor Cultural Carlos Harasawa e do tesoureiro Wilson Otsuka”, e do Núcleo de Convivência de Idoso, um dos 80 equipamentos mantidos e geridos pela Prefeitura de São Paulo – Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e instalado no Bunkyo com a colaboração da Comissão de Assistência Social da entidade.
Reaproximação – Sobre esses praticamente quatro meses que ainda faltam cumprir, Renato Ishikawa antecipa que pretende aproveitá-los “visitando e revisitando o máximo de lugares que puder”. Alguns ele já elegeu, como o 2º Finiamo (Fórum de Integração Nikkei da Amazônia Ocidental), que será realizado nos dias 15 e 16 de março, em Manaus (AM), além de associações em Recife (PE), em Salvador (BA), Goiânia (GO), Londrina e Maringá (PR) e no interior de São Paulo.
“São associações que contribuíram muito ao longo dos meus três mandatos e que gostaria de agradecer pessoalmente”, conta Renato Ishikawa, explicando que tem muito orgulho, em especial, de ter participado diretamente da reaproximação entre o Bunkyo e as associações do Paraná, de uma forma geral, lideradas por Eduardo Suzuki, presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná; Afonso Shiozaki, presidente da Acema – Associação Cultural e Esportiva de Maringá; Luzia Yamashita, presidente da Acel – Associação Cultural e Esportiva de Londrina, e pelo deputado federal Luiz Nishimori.
Renato conseguiu implantar sua filosofia de trabalho também no exterior
130 Anos – Sua agenda até abril também deve ser ocupada com reunião para definir seu sucessor e para preparar as comemorações de 70 anos do Bunkyo e para tratar sobre as celebrações dos 130 Anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão.
Para os festejos 70 anos da entidade, ele conta que ainda não há nada planejado, mas que gostaria de deixar algo esquematizado. “Acho que poderíamos fazer algo em reconhecimento a todos que contribuíram com o Bunkyo, não só diretores, mas colaboradores e patrocinadores. E talvez fazer alguma publicação comemorativa”, revela, explicando que, em relação à celebração dos 130 anos de relações diplomáticas entre os dois países, o Bunkyo deve entrar como entidade apoiadora.
Gambatchê – “A programação deve ficar a cargo dos governos dos dois países, ou seja, entre o Gaimusho (Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão) e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil”, conta Ishikawa, lembrando que a Campanha “Gambatchê”, que visa arrecadar recursos para a reconstrução do Enkyosul – Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul – que ficou completamente destruída após a tragédia do ano passado no Rio Grande do Sul, encontra-se em sua segunda fase.
Por fim, Renato Ishikawa disse que, mesmo após deixar o cargo de presidente, pretende continuar atuando em prol da comunidade nikkei. Mas, agora, com mais tempo para se dedicar as suas atividades profissionais e, é claro, à família.
(Aldo Shiguti)