Do responsável pela introdução das Raças Wagyu no Brasil ao pioneiro na produção da goiaba feijoa, passando por um dos mais respeitados nomes da fitopatologia no país e a um dos especialistas em florestas brasileiras, o Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – por intermédio da Comissão do Prêmio Kiyoshi Yamamoto / Bunkyo Rural, prestou uma bonita homenagem àqueles que fizeram – e continuam fazendo – a diferença na agricultura brasileira.

Realizado no dia 1º de novembro, no Salão Nobre do Bunkyo, no bairro da Liberdade, em São Paulo, a 53ª edição do Prêmio Kiyoshi Yamamoto homenageou o professor Chukichi Kurozawa; o pecuarista Sadao Iizaki; o agrônomo e produtor rural Shu Otani e o engenheiro agrônomo Guenji Yamazoe.

Estiveram presentes o vice-presidente do Bunkyo, Roberto Nishio; o presidente da Comissão Bunkyo Rural / Prêmio Kiyoshi Yamamoto, Nelson Kamitsuji; o cônsul para Assuntos Políticos e Gerais do Consulado Geral do Japão em São Paulo, Daisuke Hattori; a representante sênior da Jica (Japan International Cooperation Agency) Brasil, Reiko Kawamura e o subsecretário de Abastecimento e Segurança Alimentar da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Diógenes Kassaoka, além de familiares, lideranças da comunidade nipo-brasileira e representantes do setor agrícola.

Relevância – Representando o presidente do Bunkyo, Renato Ishikawa, o vice-presidente da entidade, Roberto Nishio, deu as boas-vindas aos homenageados e ao público, que lotou o salão nobre. Ele lembrou que o Prêmio Kiyoshi Yamamoto foi instituído em 1965 no “seio” da Abeta – Associação Brasileira de Estudos Técnicos da Agricultura, entidade fundada por Kyoshi Yamamoto, também fundador do Bunkyo.

“Com a extinção da Abeta, a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, Bunkyo, assumiu, em 1999, a responsabilidade de dar continuidade à premiação. Atualmente, o Prêmio Kiyoshi Yamamoto é um dos mais tradicionais dos eventos do Bunkyo, e sem dúvida, um dos mais importantes se considerarmos a relevância da agropecuária no desenvolvimento econômico e social do Brasil”, destacou Nishio, lembrando que, recentemente, esteve em Tomé-Açu, no Pará, “e tivemos a oportunidade de constatar a relevância do Prêmio Kiyoshi Yamamoto ao ouvir do senhor Francisco Sakaguti, atual presidente da Associação Cultural e de Fomento Agrícola de Tomé-Açu, que seu pai, Noboru Sakaguti, orgulhava-se por ter sido distinguido com essa láurea em 1999, na 29ª edição do prêmio, em reconhecimento ao seu empenho na introdução de uma agricultura autossustentável em Tomé-Açu, o já internacionalmente consagrado sistema agroflorestal de Tomé-Açu-Safta”.

Presidente da Comissão Bunkyo Rural / Prêmio Kiyoshi Yamamoto, Nelson Kamitasuji explicou que, ao longo dessas 53 edições, o Prêmio Kiyoshi Yamamoto homenageou 174 personalidades, entre produtores rurais, pecuaristas acadêmicos e pesquisadores, não se limitando somente à comunidade nikkei.
“A Comissão do Prêmio Kiyoshi Yamamoto instituída pelo Bunkyo é responsável pela eleição dos premiados entre candidatos indicados por entidades ou instituições representativas de produtores rurais ou das classes profissionais. Portanto, senhoras e senhores, temos a grata satisfação e grande orgulho de apresentar quatro personalidades que fizeram a diferença nas suas respectivas atividades”, ressaltou Kamitsuji.

Homens de fé – Representante sênior da Jica Brasil, Reiko Kawamura salientou que teve oportunidade de conhecer a Colônia Celso Ramos e São Joaquim, em Santa Catarina, e teve oportunidade de aprender “muitas histórias”, principalmente sobre o cultivo de maçã Fuji na região. Entre outras coisas, conta que ficou sabendo que a maçã produzida no estado atualmente está sendo exportada para países como Portugal, Inglaterra, Índia e até Bangladesh, “comprovando o sucesso das maçãs produzidas em solo brasileiro”.
Subsecretário de Abastecimento e Segurança Alimentar da SAA, Diógenes Kassaoka destacou “o quanto é importante a comunidade japonesa para o setor produtivo do Estado de São Paulo, seja lá com os nossos amigos da Abratac, da seda, seja com os nossos amigos da horticultura, com os nossos amigos dos grãos ou ainda com os amigos da carne”.
“É ressaltar o quanto a comunidade japonesa mudou a face da agricultura do Estado de São Paulo”, disse Kassaoka, acrescentando que, “ano após ano, o Prêmio Kiyoshi Yamamoto vem premiando pessoas muito importantes”. “A gente costuma dizer lá na Secretaria de Agricultura, que o produtor rural é um homem de fé, um homem de fé que deposita, junto com a semente que ele coloca na terra, a sua esperança, o seu suor, o seu empenho, enfim, ele coloca a vida dele ali junto com aquela semente, e poder assistir esse produtor rural, poder apoiar esse homem de fé, é uma atividade muito nobre”, afirmou o subsecretário, que pediu uma salva de palmas para os homenageados.

Para o cônsul Daisuke Hattori, “observamos que, ao longo desses 130 Anos do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão, que serão celebrados em 2025, a rica herança cultural dos pioneiros e das sucessivas gerações nikkeis tem impactado significativamente a cultura alimentar da população brasileira”.
“Além de introduzir a cultura e cultivar uma vasta variedade de hortaliças, frutas, flores e cereais, a comunidade nikkei desempenhou um papel essencial no desenvolvimento da agricultura no Cerrado, nas atividades de cooperativa e na criação e aperfeiçoamento das maquinárias, logísticas e indústrias relacionadas ao setor agrícola e alimentar. Isto só foi possível graças ao esforço contínuo dos nipo-brasileiros em aprimorar seus conhecimentos resultado em melhorias genéticas, produtivas e tecnologias que refletiram no progresso deste vasto país”, concluiu o cônsul, explicando que “este espírito dos pioneiros está presente nos homenageados, conhecidos pela dedicação e especialização em suas respectivas áreas e personalidades ativas da construção da potência agrícola brasileira”.

Agradecimentos – Quem assiste – ou teve oportunidade de assistir – o Globo Rural, programa dominical da Rede Globo dedicado ao homem do campo – já deve ter ouvido os apresentadores Nelson Araújo e Hélen Martins falarem: “Segundo nosso consultor Chukichi Kurozawa…”. Como bem lembrou o subsecretário de Abastecimento e Segurança Alimentar da SAA, Diógenes Kassaoka, Chukichi Kurozawa deve ter inspirado muitas gerações de engenheiros agrônomos.
Formado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em 1966, Chukichi Kurozawa é um renomado engenheiro agrônomo e um dos nomes mais respeitados no país quando o assunto é fitopatologia.

“Sinto-me uma pessoa privilegiada por estar junto a pessoas incríveis e ser reconhecida dessa maneira”, disse o homenageado, que agradeceu aos muitos e grandes velhos amigos. Em especial, agradeceu a sua família, aos filhos Rodolfo e Gustavo e suas famílias, pelo apoio incondicional em todos os momentos. E concluiu sua fala com uma bonita e emocionante declaração à sua esposa, Glória. “Desde que a conheci e nos casamos, a minha vida passou a ter um novo sentido de felicidade, motivação e da valorização da vida em família. Certamente, sem o seu carinho e suporte, não teria alcançado o que sou hoje. Obrigado. Muito obrigado.”, finalizou.

Guenji Yamazoe lembrou que o Prêmio Kiyoshi Yamamoto, inicialmente, foi criado para homenagear os agricultores que destacavam como agricultores modelos. “Ao longo desses 60 anos, o número de agricultores foi se reduzindo, e ao mesmo tempo, também, aqueles agricultores que realmente mereciam esse prêmio. E por esse motivo a Comissão do Prêmio Kiyoshi Yamamoto passou também homenagear professores e pesquisadores e profissionais que se dedicaram na orientação dos agricultores”, disse, afirmando que, no seu caso, “talvez examinando os currículos das indicações, os membros da Comissão tenham enxergado algum mérito no trabalho que eu estou desenvolvendo no Vale de Ribeira, em Registro e Sete Barras, principalmente, de sistemas agroflorestais, tendo como foco a preservação da palmeira juçara em risco de extinção”.

Já o ex-diretor da Yakult Sadao Iizaki lembrou como foi o início oficial da criação do wagyu aqui no Brasil. Acreditando desde o começo que a carne Wagyu seria bem aceita pelos brasileiros, Sadao Iizaki registrou a importação de um macho e uma fêmea de Wagyu e inúmeras amostras de sêmen, depois de vencer as várias dificuldades e barreiras administrativas, burocráticas e logísticas, que existem para a importação de animais e materiais genéticos.

Além disso, para possibilitar o sucesso desta empreitada, ele trabalhou para fundar a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos das Raças Wagyu (ABCBRW), que foi efetivada em 1994. A associação, que está completando 30 anos de existência, conta hoje com um plantel estimado de pouco mais de 16 mil cabeças de bovinos registrados. Segundo ele, o número pode parecer “insignificante”, mas o mercado está conquistando cada vez mais espaço no Brasil.

Com cerca de 70 criadores, a associação tem hoje um programa de certificação de carne wagyu, além de produzir e fornecer carne wagyu puro e cruzado para todo o Brasil. Segundo Iizaki, “o mais importante na carne de Wagyu é a sua marmorização, que é a gordura do meio da carne.

Por fim, Shu Otani falou sobre o sonho de popularizar a feijoa, uma espécie de goiaba. Embora isso ainda não tenha se concretizado, conta que está satisfeito por ter encontrado, na terceira idade, um novo propósito na vida”. Apesar de a produção feijoa ainda estar no vermelho há 30 anos, ele conta que consegue compensar sua empreitada com os lucros obtidos com a maçã, que ajudou a consolidar.

(Aldo Shiguti)

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